Anda daí
que o céu está seco e tem nuvens no cabelo
Anda daí
Vamos desenhar dentes e narizes nas partes mais brancas
E vais ver
Não tarda nada e vai parecer-te que nasceram sorrisos
brancos e roxos
em cada dez centímetros de escuridão.
Olha
Além, há um elefante azul escuro que desce em direcção
aos castanheiros silenciosos
e ao rio adormecido
Mais ali
um pássaro de muitas asas
leva no bico um pedaço de cinzento frio
de onde saem melros curiosos e vento norte.
Anda, não tenhas medo
E aprecia todos estes rostos que saem
Do peito enferrujado da noite
Agora, afasta-te um pouco, por favor
E deixa-me acender desesperadamente as mãos
e a alma
Para que o céu seja uma planície de luz
E estes rostos fiquem um poucochinho mais
No céu, na noite e em mim.