23/12/2012

mas...



uma nuvem prateada desenha no céu preto
da noite quase chuva
um punhado de luas partidas
entre montes de marionetas
de aparência repentina.

talvez eu não tenha o direito de fazer
barulho
enquanto os pássaros se aquietam nas veias
da noite sem beijos

mas…

preciso urgentemente  de corrigir este esboço unilateral
do medo filosófico que me pressiona que me aperta
quando às vezes me distraio a escutar o ruído aceso das aves
mudas pardas esbeltas importantes
que passam devagar muito devagar
saboreando a serenidade inconfundível
destes poentes em labaredas
de mim.

17/12/2012

coisa difíceis





misturo o aroma granítico
da luz
com o sabor agressivo
das pálpebras

e as pálpebras estão
entreabertas na serenidade
temporária
deste silêncio instável
e necessário como a alma
das palavras

acredito que seja eternamente
breve
este entendimento precoce
do infinito
e das coisas difíceis
que os anos vão pousando
sem anúncio
neste rio a transbordar
de perguntas

e este rio é um rio de vozes
e de braços
sem lugares seguros
nas margens que são
apenas sombras
transparentes.

01/12/2012

sinto-te







sinto-te
na brisa que não é vento

sinto-te
na chuva que não é água

sinto-te
na folha que não é livro

sinto-te
no beijo que não é boca

sinto-te
no sempre que não é tempo

e tu, mãe?