05/10/2011

invasão



trezentos e setenta e nove homens
com gravatas
amarelas
e blocos de notas agachados
nos olhos líquidos

(nos olhos onde
gaviões sem fusíveis
alumiam o trajecto hesitante
das dúvidas simples…)

marcham em direcção
a mim
como se o planeta incompleto
da minha estranheza
fosse uma coisa perpendicular
a todas as imagens desta
melancolia permanente
e farpada
onde o frio triste de outros universos
passeia sem descanso.

02/10/2011

ao longe



não há dedadas nestas canecas
de barro nem bonecos com beiças
estranhas

e eu não tenho dúvidas:

precisava de experimentar
outra vez
a rotina fugidia de parcelas
distantes e macias
como o cheiro amarelo da língua
dos jarros

e o bafo morno do granito molhado
pela neblina dos algarismos
outonais de todos
os que de mim
partiram
numa embarcação selvagem
presa por clips
e saliva de flamingo

ao longe a voz da água
chama pela labareda cristalina
da melancolia

e o tempo quase
morre.