no coração da árvore há um pardal molhado
tristíssimo
esperando em vão que o vento lhe soletre 
só uma última vez
o nome das gotas tranquilas e longínquas 
de março
entretanto
nasce um brilho azul vindo da planície matemática 
da memória 
e eu não consigo perceber por quem chamam 
as violetas clássicas das gavetas
nem de que matéria é feita a solidão problemática 
dos livros fechados
nem qual a razão para que as fivelas cúbicas e tardias da chuva
me encharquem de saudades anónimas e frias
e teimosamente repetidas 
na geografia da noite
no coração daquela árvore há um pardal molhado 
tristíssimo
esperando em vão que o vento 
lhe soletre
só uma última vez
o nome de todas as sequências originais 
do amor
entretanto
nasce um brilho azul vindo da planície matemática 
da memória
e ao mesmo tempo 
eu não consigo conquistar a simpatia complexa 
do silêncio
nem catalogar as lágrimas utilizadas 
pelo espírito
e não compreendo por quem chamam 
os braços enfraquecidos das nuvens
agora que já não há 
possibilidades de paisagem 
sento-me na coragem amarga
dos meus olhos que teimam 
dirigir-se desprotegidos
a estas páginas 
de tempo 
escrito  em estrelas 
que já são gente
de memória
posso contar sempre com os mais 
longínquos pedaços
do meu peito disperso 
mesmo que
de memória
eu morra mil vezes cheio de vazios 
em cada triste pestanejar 
do poente.
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