07/07/2012

PAÍS


Este é o país
Que em trovas
Novas
Se agiganta
Um pedaço de merda
Um verso
Disperso
Que se canta
Um pequeno gesto
Manifesto
Um sobressalto
Um azedume pontual
Anormal
Uma tira de asfalto
Um sal
De mar seco
Um gavião
No chão

Este é o miolo negro
O medo
Tornado nação
Como se fora um brinquedo
Um amuleto de má-sorte
Um pedaço difícil
De míssil
Um projecto aberto
De morte

E há aqui tantas mentiras
Giras
Tantos restos
Abjectos
De dizeres
Tantos lagos de malquereres
Tantas cordas
Tantas luzes
Tantos pescoços
De avestruzes
E a verdade
Moribunda-se
Quase exangue
Como se fora um sopro
Um bang






E a mágoa
Repete-se na voz calma
Do desastre
Na saudade doente
Do passado
Presente

É neste tempo
Que amadurece
A estranha revolta
Que volta meia volta
Volta
E a raiva vem
Vai
Vai e vem
Vem e vai
Enquanto a memória
Planta lágrimas
Que não morrem mais.



in “As palavras côncavas”, págs.39-40, Editora Ausência, Porto, 2003

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