as
flores, as mais pequenas, sofrem mais. não se escondem entre azinheiras ou entre
salgueiros, não podem. apenas estão lá, sozinhas, no chão, peito para cima,
olhando o céu que fica longe do corpo.
e
no céu, se calhar, não há flores. e no céu, se calhar, não há nada que
interesse às flores. de que serve então as flores ficarem, lá, sozinhas, no
chão, peito para cima, olhando o céu que fica longe do corpo?
o
vento não me pergunta mas muda-me de sítio, não me perguntou mas mudou-me de
sítio. e, por uns momentos, estou num outro lugar, agora.
e
pergunto à flor mais velha, das mais velhas flores, no chão junto ao ribeiro:
diga-me,
senhora flor, temos mesmo de ficar ali? olhe, ali, sozinhas, à beira das urzes
e das papoilas e das pedras, peito para cima, olhando o céu que fica longe de
nós? tem a certeza, senhora flor?
sabe?
preferia ficar aqui, se pudesse, perto de si, ouvindo histórias. sonhei que um
dia poderia ficar aqui, perto de si, ouvindo histórias. mas, um instante destes,
eu sei, o vento vai levar-me de volta, outra vez. para lá, para além.
conte-me
uma história, conta?
sabe?
vou embora, daqui a pouco, sinto isso na alma. e gostava tanto de ouvir uma
história!...
as
flores, as mais pequenas, sofrem mais. foi sempre assim, desde sempre. não se
escondem. nem sabem pedir ao vento que as mude de chão. ficam lá, estão lá, à
espera de um pedaço de céu que não fique tão longe das pétalas.
era uma vez…
-
depressa, senhora flor, que vem aí o vento!
In
MaiaHoje,
28.11.2008
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