02/08/2012

acabou


(para o meu pai)





acabou.
lá em cima, apenas as aves esvoaçam, metódicas, silenciosas e tristes
enquanto a brisa sopra, com asas de rosa, uma melodia de adeus e de frio.

acabou.
a solidão desceu, como nuvem, sobre todas as raízes impossíveis de conter
neste soluço invisível de desespero.

acabou.
fecho a mão, fecho a mão com força, fecho a mão com muita força
mas já não está ninguém lá dentro.

acabou.
lá em cima, as aves continuam a esvoaçar, metódicas, silenciosas e tristes
sobre esta dor insuportável da partida.

acabou.
lá em cima, as aves esvoaçam, metódicas, silenciosas e tristes

e são cúmplices deste grito surdo que se embrenha
terra adentro.

acabou.
partiste e levaste contigo, e para sempre, as últimas sílabas
das minhas primeiras palavras:

-pa… paa… Pai!





Janeiro de 2011

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