Diz as palavras
Como quem abraça qual tolo
A água, o ar, o tijolo
Diz as palavras
E grita
Como quem vomita
A tinta
Tem olhos de lápis
Nas veias do gesto
E tem suor
Na raiva da voz
Tem paisagens nas mãos
Abertas em poemas
E usa o coração
Para esconder as penas
Quando chega à sala
Despe-se da chuva
Como se a chuva fosse
Um voo sem escala
A molhar-lhe a teimosia
Despe-se do degredo
Do medo
Da noite que nasceu fria
Deita fora o cansaço
Da dor e da imensidão
Da rua
E inventa o amor
Como se fosse
Uma coisa sua
Ele é o “diseur”
Aquele, ali, é o “diseur”
De carne, de pó, de pedaços
Esse mesmo
O picheleiro de emoções
O guindaste das estrelas
O senhor dos papéis
Cheios de vitrais e marcações
O senhor dos poentes e capitéis
De bíblias, de sementes
De letras a esmo
De nuncas, de sempres
Esse mesmo
Aquele, ali, é o “diseur”
Levantem-se por favor
Quando ele entrar
Porque aquele, ali, é o “diseur”
E ele diz coisas tão belas e tão lindas
Que nos fazem sonhar
Ilhas longe daqui
E lá vamos nós sem demorar nada
E ele é simples como a terra molhada
Grave como a nostalgia
Dos babeiros de ontem
Alegre e sedutor
Como o bico das canetas
Ele é o “diseur”
Diz a vida de um trago
Senta-se no infinito de olhar vago
Como um fantoche partido
Chorando um verso perdido
Na distância da idade
Ele é o “diseur”
Aquele, ali, é o “diseur”
Uma lenda de verdade
Um duende, um gnomo, um gigante
Um assomo de infante
Num bocado de luar
Ele é o “diseur”
Aquele, ali, é o “diseur”
Levantem-se por favor
Quando ele entrar.
Não tenho as palavras certas para lhe transmitir o impacto que este seu "diseur" teve na minha corrente sanguinia...
ResponderEliminarBem haja
Sara
Obrigado.
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