05/09/2012

Buscas






A impossibilidade de acreditarmos, em absoluto, nas mais complexas teorias sobre o que existe para lá dos nossos muros, esmaga-nos a felicidade de apertar os cordões aos sapatos, tira-nos a epopeia de coçar os testículos entre as gangas e proíbe-nos a companhia de Astérix no wc. Não é fácil.

A nossa fé, no que quer que seja, mede-se em algarismos de calculadora, experiências de laboratório e telas de computador. Para lá disso, apenas queremos que nos deixem comer o nosso Chocapic, na paz dos anjos que sabemos não haver.

As guerras, os atropelos à dignidade, as corrupções e as completas misérias com que a vida nos embrulha, são as disciplinas obrigatórias deste curso fantasmagórico de sobrevivência atrapalhada, que, cada vez mais, nos conduz à negação de tudo o que está para lá dos nossos conhecimentos mais imediatos e básicos.

As couves estão ali, ao lado dos físicos, dos cartões de crédito e dos boletins de totoloto.
Depois disso, só avalizamos o palpável. Escolhemos os ídolos e as vozes dos silêncios para depois copularmos entre novelas e cotações.

No meio disto tudo, distribuímos a nossa paciência pelos molhos de medo que as religiões apregoam. Acatamos a dúvida e mostramos indiferença.

Deus é, às vezes, uma hipótese de tranquilidade. Deus é, às vezes, uma certeza de vazio.
Mas enquanto se discute a imagem da Sua ausência, precisamos de tudo e do seu dobro, em quantidades imprevistas, em nome do nosso catálogo de perguntas.

Talvez mereçamos esta impossibilidade de acreditar em algo que não se mostra disponível às nossas buscas.

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