A impossibilidade de acreditarmos, em absoluto, nas
mais complexas teorias sobre o que existe para lá dos nossos muros, esmaga-nos
a felicidade de apertar os cordões aos sapatos, tira-nos a epopeia de coçar os
testículos entre as gangas e proíbe-nos a companhia de Astérix no wc. Não é
fácil.
A nossa fé, no que quer que seja, mede-se em
algarismos de calculadora, experiências de laboratório e telas de computador.
Para lá disso, apenas queremos que nos deixem comer o nosso Chocapic, na paz
dos anjos que sabemos não haver.
As guerras, os atropelos à dignidade, as corrupções
e as completas misérias com que a vida nos embrulha, são as disciplinas obrigatórias
deste curso fantasmagórico de sobrevivência atrapalhada, que, cada vez mais,
nos conduz à negação de tudo o que está para lá dos nossos conhecimentos mais
imediatos e básicos.
As couves estão ali, ao lado dos físicos, dos
cartões de crédito e dos boletins de totoloto.
Depois disso, só avalizamos o palpável. Escolhemos
os ídolos e as vozes dos silêncios para depois copularmos entre novelas e
cotações.
No meio disto tudo, distribuímos a nossa paciência
pelos molhos de medo que as religiões apregoam. Acatamos a dúvida e mostramos
indiferença.
Deus é, às vezes, uma hipótese de tranquilidade.
Deus é, às vezes, uma certeza de vazio.
Mas enquanto se discute a imagem da Sua ausência,
precisamos de tudo e do seu dobro, em quantidades imprevistas, em nome do nosso
catálogo de perguntas.
Talvez mereçamos esta impossibilidade de acreditar
em algo que não se mostra disponível às nossas buscas.
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