22/08/2011

alma


é ali entre o arvoredo das línguas
e dos botões de punho
que a proa deste barco se estende pintada
de um branco tão parolo como a cor mastigada
das cascas de tremoços sem água
e sem pessoas.                           

é ali que eu coloco as letras de barriga para baixo
sem receio de as magoar nas tábuas escritas
da maré descalça.

é ali que eu sonho todos os dias
com as palavras certas deste território interior
forrado a sargaço e a espuma de grafite.

é ali que tudo acontece ao cair das forças
e este barco semeia remos entre as rodelas esbranquiçadas
das nuvens cambiantes e sôfregas de estrelas.

é ali entre as rugas do sossego idoso das árvores
que nasce a morte da bruma que passa
equilátera e tardia
enquanto a memória imprime desenhos
na pele derretida da alma errante.

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