08/08/2011

a cidade tranquila

a escola ficará a dois passos o tribunal a três e o hospital estará
mesmo ao virar da esquina entre as flores envidraçadas
do jardim desenhado por um “viarco” número um
em papel cavalinho estrangeiro.

se perguntarmos aonde é que se come
será ali mesmo ali entre a livraria e a loja de música
e não haverá trânsito que atrapalhe o nosso andar
onde quer que nos apeteça ir.

o teatro morará na saudável inquietude das estreias fenomenais
e as gentes tratarão os actores como se fossem as coisas mais geniais
das noites estreladas e quentes e chuvosas e frias.

o museu terá um dístico rectangular enorme e branco
que anunciará serem grátis as visitas sem dias sem horas e sem épocas
o museu estará permanentemente aberto anunciando a vida
dos tempos da inglória turbulência.

ao fundo da rua haverá castanhas assadas embrulhadas
em páginas amarelas e jornais sensacionalistas
e ouvir-se-á uma melodia finíssima de Brightman
embandeirar todas as avenidas da cidade tranquila.

os velhos estarão disponíveis para ensinar explicar
e falar sobre as coisas normais e vulgares e difíceis e inexplicáveis
que às vezes acontecem

e ninguém perguntará mais pelas tumultuosas páginas
dos dias inseguros e falidos e criminosos
das pessoas sem coração sem modos e sem honra
que um dia passaram por ali.

se perguntarmos aonde é que estamos
estaremos ali mesmo ali entre um calendário e uma esferográfica
à espera de nós próprios.

1 comentário:

  1. Em boa hora querido Amigo, em boa hora.
    Fazias por cá imensa falta.
    É preciso dar a conhecer o teu talento.
    Ah, é verdade, e é imperioso e urgente construir esta tua Cidade da Utopia!!!
    Bjs,
    M.M.

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